quinta-feira, 19 de março de 2015

Em 1915, bacharéis da elite econômica de Campina fundavam o Campinense


Campina Grande ainda era uma cidade sem iluminação pública adequada e com 60 mil habitantes. Clube nasce como reduto de ricos e pouco interessado com futebol.




Naquela época, ainda não havia iluminação pública nas principais áreas de Campina Grande, elevada à condição de cidade há não mais do que cinco décadas. A população não passava de 60 mil habitantes. E o prefeito era um estrangeiro: o dinamarquês Christiano Lauritzen, que governou Campina Grande por nada menos do que 19 anos.
Estamos em 1915 e numa realidade em que já existia uma forte rivalidade política: o Partido Conservador disputava espaço com o Partido Liberal. 
O primeiro trem da região, que funcionava há oito anos na estrada de ferro da "Great Western", escoava a produção de algodão e impulsionava a economia da que viria a ser a principal cidade do interior nordestino. O apelido: a "Liverpool Brasileira".
campinense, escudo (Foto: Acervo / Blog Recordações Históricas de Campina Grande)O primeiro escudo do Campinense em sua histporia (Foto: Acervo / Blog Recordações Históricas de Campina Grande)
Ali habitavam pessoas notáveis do ponto de vista intelectual. Todos bacharéis, o que era raro na época. Muitos que estudaram no Recife (onde ficavam as melhores faculdades da época) e depois voltaram para Campina Grande. Homens que andavam sempre muito elegantes, em seus paletós, casacas ou fraques e com o chapéu ou a cartola ainda sendo itens importantes do vestuário masculino.
Eram nomes como Acácio Figueiredo, Tertuliano Souto e Valdemar Candeia. Tinha Sindô Ribeiro, Adauto Belo, Severino Capiba, José Amorim  e Adauto Melo. Passando por Gumercindo Leite, Basílio Agustinho de Araújo, Alberto Saldanha, João Honório e Alexandrino Melo. César Ribeiro, Antônio Cavalcanti, Antônio Lima, Arnaldo Albuquerque,  Horácio Cavalcanti  e Dino Belo. Assim como Elias Montenegro, Sebastião Capiba, Gilberto Leite, José Pereira, Nhô Campos, José Aranha, Luis Soares, José Câmara, Manoel Colaço e Martiniano Lins.
Foi pelas mãos desses "nobres" que, em 12 de abril daquele ano, três meses após a primeira partida de "foot-ball" que se tem registro na Paraíba, a Sociedade Recreativa Campinense Club foi fundada oficialmente.Aquele que se tornaria um dos maiores clubes da Paraíba. Aquele que se tornaria o primeiro clube de futebol a alcançar o centenário. O nome, conforme conta o jornalista Jobedis Magno, foi uma sugestão do jovem advogado Hortênsio Ribeiro. 
O Campinense foi fundado em 12 de abril de 1915 por um grupo de ricos bacharéis que a princípio não se interessaram com o futebol 
 Voltado à aristocracia, o "sodalício" (como na época as sociedades do tipo eram conhecidas) não surgiu tendo o futebol como umas de suas atividades. Sequer sonhava-se com um "escrete" que venceria 18 títulos estaduais e uma Copa do Nordeste, dentre outras inúmeras conquistas.
Mas dessa sociedade recreativa dançante, que teve como primeiro e provisório endereço o prédio do Colégio Campinense, dirigido por Gilberto Leite, na rua Afonso Campos, Centro de Campina Grande, o gosto pelo esporte não demoraria a aparecer.
Depois que apareceu o América Sport Club, fundado em 1916 por Antônio Fernandes Bióca e outros precursores do futebol no Estado, a magia do futebol se espalhou pela cidade. Surgiram o Humaitá Sport Club, o Palmeiras Sport Club, o União Football Club.
Dentro do Campinense, existiam sócios que praticavam o "esporte bretão" em outros clubes. Na época, já se discutia a abertura, ou não, de um departamento esportivo. Mas a resistência inicial também era grande.
Só em 1917 o então presidente Arnaldo Albuquerque Cavalcanti aproveitou o crescente apego dos jovens ao futebol para fundar o primeiro Departamento de Futebol do clube, e com ele a formação do primeiro "team".
primeiro time do campinense (Foto: Acervo / Blog Recordações Históricas de Campina Grande)Um dos primeiros times do Campinense que se tem registro em fotos, de 1918 
(Foto: Acervo / Blog Recordações Históricas de Campina Grande)
Durou pouco. Em 1920, por ser considerada uma "equipe causadora de confusão", foi extinto o Departamento de Esportes por ordem do bacharel de justiça Severino Procópio. E com anuência do próprio presidente Arnaldo Albuquerque.
Em 1920, a diretoria (do Campinense) resolveu dissolver o time, pois a estas alturas, bala se confundia com bola" 
Revista Comemorativa do Campinense dos 60 anos de história
"Numa cidade onde tudo era quente, a começar pela política, havia uma grande rivalidade entre o América e o Campinense. E no domingo em que havia jogo entre os dois rivais, a briga já era esperada. A coisa chegou a tal ponto, com correrias e até pânico entre os torcedores que, em 1920, a diretoria (do Campinense) resolveu dissolver o time, pois a estas alturas, bala se confundia com bola", relata a revista publicada pelo clube em 1975 e que comemorava os 60 anos de história do clube.
Os historiadores contam ainda que os sócios da época colocavam na conta dos "populares iletrados" a culpa pelas brigas durante os jogos. E nisto, a elite não admitia que os mais humildes, também envolvidos pelo jogo, se misturassem com os seus. O futebol no Campinense só ressurgiria 34 anos depois.
Novas sedes
Pequena para a crescente quantidade de sócios, a sede improvisada da rua Afonso Campos logo seria mudada. Na esteira do ciclo do algodão, principal atividade econômica da cidade, os ricos sócios do Campinense logo construíram uma sede própria para o clube.
Era fevereiro de 1936 e, onde hoje se localiza a rua Miguel Couto, também no Centro, em frente à Praça Coronel Antônio Pessoa, inaugurou-se o que ficou sendo chamado de "Palacete do Clube". O majestoso prédio levou quase quatro anos para ficar pronto. O nome da agremiação, em letras garrafais, estava exposto na fachada.
campinense, primeira grande sede, centenário (Foto: Acervo / Lamir Mota)Primeira grande sede do Campinense, fundada em 1936 (Foto: Acervo / Lamir Mota)

Na década de 1950, por influência do sócio Acácio Figueiredo, irmão do governador Argemiro de Figueiredo (1935-1940), o Campinense recebeu em sistema de comodato o Estádio Municipal Plínio Lemos, localizado ao final da rua Maximiano Machado, no bairro de José Pinheiro, zona leste de Campina Grande.
Depois dali, onde conquistou tantas glórias, também passaria a ser patrimônio do clube a famosa "Boate Cartola", construída na década de 1960 num enorme terreno no bairro da Bela Vista. Foi lá que o ginásio batizado de César Ribeiro foi levantado, junto com o parque aquático, este concluído em 1973. O terrenos é o mesmo onde bem depois seria construído o Estádio Renatão, obra que acabou por soterrar o tal parque aquático.

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A AVET – ASSOCIAÇÃO DE VETERANOS DA TORRE, criada oficialmente em 02 de agosto de 2007 é o resultado do anseio dos peladeiros que iniciaram a prática do futebol de veteranos no antigo estádio o “Trigueirão”. Seu mentor é Renato Simão, o Cabral, que incentivou e levou adiante a idéia da AVET, que hoje é uma realidade. A AVET também é conhecida como Pelada José “Longa” Gonzaga, em homenagem ao símbolo do peladeiro e amante do futebol amador da Torre. A AVET é o mecanismo legal criado pelos abnegados do futebol amador da Torre e outros que se juntaram e estão se juntando à nossa causa visando adquirir um espaço próprio para a prática do nosso futebol.

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